O texto Pragas da leitura de Sírito Possenti aponta algumas pragas da leitura, mas a que mais me chama atenção é uma que todo profissional da língua materna sabe muito como é que é essa situação. Por isso, cito o trecho integralmente porque resumi-lo traz a possibilidade de não transmitir toda a riqueza da informação:
"Se a escola é também um tempo de preparação, se leitura é um lugar de trabalho, uma das consequências é que se deve trabalhar com todos os tipos de textos relevantes. Não só o literário, embora sem a exclusão do literário. Falo, por exemplo, da completa ausência de leitura e da análise de textos de circulação cada vez mais elevada, textos que ensinam a fazer coisas. Dentro de pouco tempo, mesmo em um país subdesenvolvido como o nosso, haverá computadores em todas as esquinas, e aprender a usar um será muito importante. Os textos que ensinam a fazer isso são ruins, os leitores que devem ler isso não têm nenhum treinamento. Todos os dias somos espoliados por despachantes, porque não temos nenhum treinamento com formulários, com imposto de renda, com IPTU, contratos de aluguel etc. Ler regras de jogos, regras de montagem etc., fazer funcionar partes insuspeitadas do cérebro. Além do mais, frequentemente a literatura trabalha sobre estes tipos de texto como fonte e forma. Ler também o que não é sagrado, a literatura consagrada, eis o que quero dizer. A praga que quero combater é a da seleção repetitiva dos mesmos livros em todas as escolas, o tempo todo. ALENCAR é ótimo, mas não é o único. Até mesmo quem não é da área chega e pergunta: Quando é que meu filho vai ler Iracema? Agora as escolas não mandam mais ler Iracema? E como quando perguntam: e quando é que vai ter verbo irregular? Quando a escola muda um pouco para melhor, lá vêm os especialistas em ignorância e perguntam se os filhos não vão ser enganados do mesmo jeito que eles foram. Não querem que se tente nada de novo, mesmo o equívoco tem que ser sempre o mesmo, passar de pai para filho.”
Judite Ferreira Souza
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