As principais orientações para quem quer melhorar o desempenho de uma apresentação em público |
Osório Antonio Cândido da Silva
Ao planejar o que vai dizer, leve em consideração uma lista mental de questões a que sua fala deve responder; as lacunas que cada afirmação pode provocar à medida que enunciada; o tipo de predisposição do auditório às ideias que você defenderá (conceitos partilhados, preconceitos, visão de mundo); as condições e o contexto em que a comunicação ocorrerá.
Saber a idade do grupo, suas convicções políticas, religião, ocupação e algo mais é de vital importância. As pessoas estarão apoiando sua fala ou se posicionarão contra? Será uma plateia mista? Esteja preparado para valorizar a oposição. A primeira real pergunta a ser respondida quando se prepara uma apresentação, portanto, é se o seu público é favorável a suas ideias. Será ele hostil? Terá ponto de vista oposto? Explorar fatores como esse é bom ponto de partida para um orador iniciante. Para os experientes, é um adicional valioso. A persuasão assume formas variadas e conseguir que as pessoas concordem com sua forma de pensar é uma proeza.
Com a plateia a favor
Antes de tudo, considere se sua plateia vê com bons olhos aquilo que você apresenta. 1) Se seu público concorda com seu ponto de vista, concentre-se nele, eliminando, assim, pontos de vista opostos. Vejamos um caso atual muito polêmico: se você batalha pela descriminalização da maconha e pensa que é uma boa causa porque ela poderia ser taxada ou usada em tratamentos médicos, ou não tem efeito suficientemente nocivo para merecer a ilegalidade, isso será, provavelmente, tudo o que você deve dizer.
Se a plateia for previamente favorável à ideia, estará predisposta a ficar a seu favor. O grupo tenderá a comprar não só a ideia principal como outras que façam parte do discurso. Prestará atenção a detalhes e será capaz de lembrar os pontos importantes, porque tudo confirmou suas noções anteriores. Encare a oposição Essa é uma boa razão para você lapidar seu discurso e personalizá-lo para uma audiência específica. Faça um esforço adicional e gaste algum tempo para realizar isso. O ponto chave aqui é: faça sua audiência concordar com a sua apresentação e, se não o conseguir totalmente, seja capaz de vencer resistências da plateia. Numa análise final, talvez você tenha de fazer uma abordagem sob outro ângulo, mais geral. Este será o maior desafio oratório: convencer os que se opõem ao seu ponto de vista. 2) Quando uma audiência se posiciona contrariamente ao ponto de vista do orador, ele deve endereçar sua fala aos argumentos da oposição. Se você se preocupar só em defender seus pontos de vista, ignorando os da oposição, tenderá a ver sua audiência desligar-se de sua fala, talvez até considerá-lo um orador sem credibilidade.
Primeiro, porque não o sentirão intelectualmente honesto. Você não está considerando o momento com todas as suas devidas nuanças, os argumentos deles não foram valorizados. Basicamente, você não os levou a sério. Então, o que é preciso fazer e como? Mecânica oratória Você deve apresentar seu argumento, destacando seus pontos fortes. A seguir, aponte os argumentos primários dos opositores e, então, vá destruindo um por um. Lance dúvidas e o descrédito sobre eles. Desse modo, você estará dando atenção à oposição e oferecendo algo novo sobre o que pensar.
Todos verão os pontos fracos de suas posições e estarão considerando as informações novas que suportam suas ideias. Você terá plantado a semente da dúvida e atraído muita gente para o seu modo de pensar. Você pode ser um palestrante excepcional, com voz agradável, boa linguagem corporal, gestos sob medida, ter um material de pesquisa excelente para apoiar seu discurso, um início magistral, uma finalização empolgante, bom humor e uma graça cativante. Mas se desconsiderar os pontos de valor de seus opositores, sua fala pode ser um fiasco. Plantar a dúvida Se o orador percebe que a oposição pode ter vários pontos fortes, deve mencionar alguns, não só para mostrar bom senso, mas plantar a dúvida e minar os fundamentos da oposição. Isso vai permitir que pareça educado, justo e equilibrado aos olhos da plateia. Assim, pode-se dizer que o ponto focal para persuadir é fazer as pessoas se sentirem felizes depois de decidirem ver ou fazer o que você sugere, depois de terem concordado com você. E mais, sem ficarem com o sentimento de que "perderam a parada".
Osório Antonio Cândido da Silva é professor especialista em Técnicas de Comunicação e Expressão Verbal há trinta anos e mestrando em Ciências da Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero.
O que falam os especialistas |
Falar bem pode ser um tormento, mas o aquecimento da economia parece ter intensificado a necessidade de interação pública. Há, hoje, mais defesas de posição em reuniões de negócio, mais decisões afetadas por discursos na mídia, além de alunos e professores se expondo - em todos os casos, a certeza de que uma má exibição não só irrita a plateia como turva o que se fala. Por isso, diz Osório Antonio Cândido da Silva, que desde 1980 ministrou cursos a 5 mil alunos, o ensino oratório quer ser total: azeita discurso e presença, o uso de voz e corpo. Para Reinaldo Polito, outro expoente no mercado de soluções em oratória, a maioria "morre de medo" de falar em público.
- São profissionais que já conseguiram posições de destaque, mas ficam humilhados por não conseguirem construir frases inteiras - afirma Polito.
Cursos, então, acabam por acalmar o orador. Reinaldo Passadori, do Instituto Passadori de Educação Corporativa, há 20 anos lida com executivos que "vendem" ideias e são entrevistados. Eles têm de persuadir e influenciar, diz. Os cursos se segmentaram. Há opção para políticos, mulheres, sindicalistas e jovens. Em cada módulo customizado há as mesmas ideias de desinibição e raciocínios ajustados ao ouvinte. Para construir discursos é preciso saber com quem se lida, diz Osório, convidado da edição para indicar as dez orientações destas páginas. (Colaboraram: Agência Repórter Social e Jezebel Salém). |
1. Perder o medo |
A. Conheça sua plateia - Reúna o maior volume possível de informação sobre o seu público. Vai falar a especialistas? São neófitos no tema? Influenciam decisões? Prepare-se para falar um pouco a cada um: nem acima nem abaixo da expectativa.
B. Conheça seu assunto - Faça apresentação atualizada. Não corra o risco de o público conhecer o tema mais do que você.
C. Esteja preparado - Não cometa o erro maior (aliás, amador) de não estar preparado.
D. Encare seus ouvintes - Procure o contato visual com a plateia. Ao primeiro aceno positivo que receber, sua autoconfiança aumentará. Considere que as pessoas que se dispuseram a ouvi-lo estão ali para ver o seu sucesso e aprender com você.
E. Fale com entusiasmo - Não imite ninguém. Mas fale de modo entusiasmado, com emoção.
F. O momento mágico - Ofereça ao seu público algo que o surpreenda: o encanto do inesperado.
G. Deixe uma mensagem - Encerre seu discurso com uma mensagem memorável. Procure transformar sua fala em possibilidade de ação.
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2. O tom natural da fala |
Nem a melhor das técnicas supera a sua naturalidade. Nunca imite quem quer que seja ao falar.
- Não fale rápido demais. Se sua dicção não for boa, ninguém irá entender o que você diz. - Não fale lentamente e com longas pausas. O tédio pode prevalecer. - Não fale alto demais. Você se cansará e irritará o ouvinte. - Não fale baixo demais. As pessoas farão esforço para ouvi-lo e, não conseguindo, dispersarão. - Procure não cair na monotonia da fala linear, sem ênfase, nem na veemência exagerada. - Se for virar-se para a tela, fale um pouco mais alto enquanto estiver de costas para o auditório. - Crie um ambiente agradável de comunicação, alternando a altura e a velocidade da fala. - Dedique atenção à voz. Trabalhada, transmite segurança e carisma. - Não imite o sotaque da região em que estiver se apresentando. Nem satirize o de outras regiões. Você não sabe quem estará na plateia. |
3. Antes de entrar no assunto |
- Só comece a falar quando estiver na frente de todos e sentir que a atenção da plateia está em você. - Deixe seu nome completo bem visível. - Desde o início, procure envolver seus ouvintes quanto à utilidade do tema. - Mostre seus objetivos, dando visão geral do programa. - Se o auditório for pequeno, faça perguntas e sinta a experiência que o grupo já tem do assunto. - Se ninguém o fez ao apresentá-lo, declare sua experiência no assunto de que vai tratar. - Prepare-se para não ultrapassar o tempo definido. - Jamais declare que não teve tempo de preparar-se. - Quando sua apresentação fizer parte de algum programa, não ultrapasse o seu tempo; mas, se ocorrer, não deixe de dar explicações ao grupo. |
4. O vocabulário adequado |
- Muito cuidado com a gramática. Erros atrapalham a apresentação e podem arrasar sua imagem. Dedique cuidado especial à concordância e à conjugação de verbos. - Desenvolva um vocabulário simples, objetivo e suficiente para representar suas ideias. - Não dependa de vocabulário pobre. Restrinja as gírias e elimine palavrões. - Evite termos de sua profissão (ou de sua região) em locais não familiarizados com eles. - Pronuncie bem as palavras. Não corte s e r finais, nem i intermediários. - Evite o uso de cacoetes no meio do raciocínio, como "tá ok?", "é assim", "né", "bem", "então", "certo?", "é o seguinte". - Evite, também, repetir certos termos ou frases ("basicamente", "quer dizer", "efetivamente"). - Não abuse das palavras estrangeiras. - Evite as expressões "todos compreenderam?", "conseguiram entender?", "alguma dúvida?". - Prefira algo como "acham que devo repetir?" ou "posso explicar melhor ou não é o caso?" |
5. Controle emocional |
A. Defina os termos de sua fala. Isso garante que você e seu público estão tratando da mesma coisa.
B. Nunca se diminua diante de seu auditório. Nem se traia: não diga ou dê a entender que se preparou mal, os slides estão desatualizados ou coisa do gênero. A plateia poderá deduzir que não mereceu respeito e empenho de sua parte.
C. Cuidado para não se repetir em demasia.
D. É aceitável consultar anotações em algum momento de "branco". Mas não faça disso um hábito.
E. Nunca chame a atenção para o fato de você estar nervoso.
F. Ao fim, nunca diga que se esqueceu de um tópico. Indica que você não se preparou como devido. Na hora das perguntas, inclua aí o tópico esquecido, mesmo que a relação entre eles seja só ligeira.
G. Em nenhuma hipótese deixe escapar que acha seu tema uma chatice.
H. Um lance pitoresco ou humorado aproxima as pessoas. Se surgir oportunidade, sirva-se disso.
I. Cuidado com piadas que ridicularizam alguém. Podem criar ressentimentos ou constranger.
J. Não peça desculpas por problema físico eventual (gripe, tosse, dor de cabeça). |
6. A linguagem do corpo |
- Os movimentos corporais e as expressões faciais são recursos que favorecem o entendimento. - Não fique andando pelo palco enquanto fala, parecendo fera na jaula. - Não fique parado no canto. Movimente-se; aproxime-se da plateia ao falar intimamente sobre um tópico. - Procure não pôr as mãos nos bolsos, nas costas ou juntas à frente, em "folha de parreira". - Gesticule com moderação, coerente com o que é dito em seu discurso. Excesso é prejudicial, mais que a falta. - Segurar algo (caneta, apontador, papel) serve de "muleta", mas não mantenha as mãos cheias de coisas que não está usando no momento. - Distribua o peso do corpo entre as pernas; apoiar-se alternadamente numa e noutra torna a postura deselegante; não abra as pernas em demasia, mas o suficiente para manter o equilíbrio. - Não fique com os ombros caídos. Passa imagem de excesso de humildade ou negligência. - Procure vestir-se de modo adequado ao auditório e à situação. Escolha uma cor de roupa que reduza a evidência de suor. |
7. A direção do rosto |
- Não olhe demais para um ouvinte ou grupo de ouvintes. Olhe o grupo, se possível nos olhos. - Detenha-se mais no contato visual com quem ocupa cargo superior ou irá decidir um negócio. - Não fique olhando o chão, o teto ou para fora da sala. - Controle o tempo de sua apresentação, mas não fique olhando repetidamente para o relógio. - Não aparente arrogância, empinando o queixo e olhando o público "por cima". - Estabeleça coerência entre seu semblante e o que está sendo dito. Coisas alegres, fisionomia sorridente; coisas tristes, cara fechada. - Se inevitável ler um discurso, olhe com frequência para a plateia e tenha certeza de que ela está atenta. - Não abuse da mímica facial nos momentos de humor. |
8. O cuidado material |
- Se usar software para slides, evite o excesso de sons: desviam a atenção. - Não resuma a ideia lotando um slide com informação. Distribua-a em vários. - Revise os slides para eliminar erros (gramática, números, grafia, ordem). - Não se limite a ler o que está projetado na tela. - Evite o projetor ligado o tempo todo. Há horas em que não é preciso. - Jamais chegue com transparências desordenadas. Sinaliza desorganização quem procura "a próxima" numa pilha. Não as mostre velhas ou manchadas. - Se usa apontador retrátil, não fique naquele abre-fecha interminável, agitando-o. Se for apontador a laser, não movimente o ponto luminoso na tela além do necessário. Nem o dirija à plateia. - Ao montar o slide, use o fundo que melhor contraste com letras e figuras; faça cópia com fundo branco para ser usada em salas com muita claridade. - Não se desvie do tema que está projetado. - Ao apontar o slide em direção à tela, não entre na frente da projeção nem dê as costas ao auditório. |
9. O microfone |
- Fale, com sua voz habitual, à distância de uns 15 centímetros entre boca e microfone. - Não dê tapinhas no microfone. Isso irrita o ouvinte e só indica que o aparelho está ligado. - Ao testar o microfone, diga algo como: "Bom dia, posso ser ouvido com clareza?". Alguns da plateia sempre tentam ajudar. - Olhe o público e não o microfone, que é um instrumento auxiliar, nunca um obstáculo. - Considere a possibilidade de o sistema de som assumir comportamento enlouquecido: chiados, guinchos, apitos, distorção da voz, enfim, tudo o que distraia a atenção da audiência. Se é o caso, continue a fala até que alguém conserte o equipamento. - Se não for possível voltar a usar o microfone, solte mais a voz, mas não berre com a plateia. - Sem recurso do som e sem ser ouvido pela maioria, melhor parar de falar. Brigar com equipamento ruim é desperdiçar seu tempo. E o dos ouvintes. |
10. O encerramento |
A. Não fale demais. Diga o que tem a dizer e, em seguida, pare. Antes, porém, dê ao público algo que o faça pensar e encerre sua apresentação com uma mensagem consistente.
B. A última coisa que disser deverá ser a mais lembrada. Pode ser um desafio, uma sugestão de ação ou a solução de um problema. Induza seu público a fazer algo.
C. Se o tema permitir, faça um encerramento bem-humorado: se bem feito, permitirá uma impressão positiva ao final e a sala não ganha aquele silêncio sepulcral enquanto você se senta.
D. Se o tema não é adequado ao encerramento bem-humorado, prepare uma história que mexa com a sensibilidade da plateia ou mostre algum tipo de pensamento ou provérbio que faça o auditório refletir.
E. Na hora das perguntas, nunca inicie uma resposta com: "Isso já falei...", "A resposta é óbvia...", "Imaginei que estivesse claro..." . Nem corte sua fala para atender a outra pergunta.
F. Elogie uma boa pergunta. Ao responder, não olhe só para quem perguntou. G. Tente captar a intenção e o conteúdo do que lhe é perguntado. Fique atento a termos ou frases que serão a chave da pergunta. A ênfase em certa palavra dá o sentido da indagação.
H. Repita a pergunta para todos escutarem. Ajuda você a ter certeza de que a entendeu.
I. Nunca deixe alguém fazer um discurso a pretexto de elaborar uma pergunta dirigida a você. Se o indagador se estender, interrompa-o, gentil e firmemente, e pergunte qual é a dúvida.
J. Uma pergunta que tem várias partes deve ser dividida e cada parte respondida em separado. Terá mais clareza e melhor aceitação. |
O tropeço no idioma |
Como os profissionais da oratória lidam com erros de português dos alunos de retórica Os profissionais da oratória dizem que o uso inadequado da variante da língua à situação e ao contexto da comunicação pode arruinar uma apresentação. Reinaldo Polito, por exemplo, acredita que não adianta ensinar gramática num curso de expressão verbal, mas ele não deixa de corrigir os erros. - Quando o aluno erra numa apresentação em vídeo, colo um lembrete autocolante em sua ficha. Lacunas de vocabulário são culpadas pelo "ãããã..." e outros vícios - comenta. O jargão especializado inadequado à plateia, deslizes no uso de palavras difíceis, construções que o palestrante não domina e o excesso de estrangeirismos são problemas que Polito tenta eliminar em seus alunos. Já Reinaldo Passadori admite que os alunos precisam ser alertados, pois não parecem preocupados com a correção do que falam. - Erros nunca são recomendáveis e só são toleráveis se fizerem parte do contexto pessoal do orador. O ideal é falar de forma simples, para que as pessoas entendam. Detalhe em voga é o planejamento. A necessidade de planejar e preparar a fala deve nortear não só o conteúdo do discurso, mas a linguagem usada.
- É preciso corporificar a mensagem por meio da gramática, do vocabulário e das metáforas - afirma Passadori. (Agência Repórter Social) |
Fonte: Revista Língua Portuguesa - 03/2010 - Edição 053 |
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É imprescindível que todos nós, professores, leiamos este artigo, pois com frequência falamos em público. Aproveitem!
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